‘Mussum, o filmis’ esclarece inverdades sobre o comediante e sambista

Ele não teve cirrose nem deixou a família na miséria.

Foto: Desirée do Valle/Divulgação

Delicado e atencioso, o menino Antônio Carlos segura a mão da mãe e a ajuda a escrever seu nome no caderno de caligrafia: “M-A-L-V-I-N-A”, ele soletra, e ela repete, emocionada por poder desenhar sua assinatura pela primeira vez na vida. A cena entre Thawan Lucas Bandeira e Cacau Protásio é uma das mais emocionantes de “Mussum, o filmis”, que tem estreia prevista para 2 de novembro nos cinemas brasileiros e exibições no Festival do Rio (amanhã, 14 de outubro, às 20h45, na Reserva Cultural de Niterói, e no domingo, 15, no Kinoplex São Luiz 2, às 16h30, no Largo do Machado).

— Malvina não dizia “você vai sofrer o racismo” ao filho, mas o ensinava a ser forte, ter caráter, ser trabalhador e ter a resposta certa na hora certa. Além de tudo, dava muito amor — conta Cacau, humorista respeitada, que mostra todo o seu talento também para emocionar neste trabalho.

Ailton Graça (Mussum) e Neusa Borges (Dona Malvina) em cena de “Mussum, o filmis” — Foto: Desirée do Valle/Divulgação

A tocante relação entre mãe e filho perpassa todas as fases do longa-metragem, com roteiro de Paulo Cursino e estreia na direção de Silvio Guindane. Como define Ailton Graça, o Mussum adulto, que compartilha o papel principal com Thawan (na infância) e Yuri Marçal (na juventude), “esse filme é uma dramédia, anda nessa linha tênue entre drama e comédia”.

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— A relação dos três Mussuns com as mães (Cacau e Neusa Borges, em diferentes fases da vida de Malvina) dá conta desse drama, onde essa mãe solo abre mão da própria vida para que o filho tenha o poder de escolha — afirma Ailton, que estudou por uma década o músico e comediante para vivê-lo na telona: — Mussum influenciou a minha vida de muitas maneiras, uma delas é que eu sou mangueirense por causa dele. Era lindo vê-lo falando do Morro da Mangueira, eu insistia para minha mãe que a gente tinha que mudar para o Rio e ir morar lá. Outra coisa em que Mussum me influenciou foi ser esse cara que enfrenta a vida sempre com um sorriso no rosto. Ele era fantástico!

Luiza Rosa (Nancy), Cacau Protásio (Dona Malvina) e Yuri Marçal (Antônio Carlos/Mussum) em “Mussum, o filmis” — Foto: Desirée do Valle/Divulgação

Ailton Graça e Neusa Borges voltam a contracenar como filho e mãe, como em “América” (2005), em que interpretaram a dupla Feitosa e Diva.

— Acho que dou sorte ao Ailton… Fiquei feliz quando soube que ele iria representar Mussum no cinema, tinha certeza absoluta de que seria um sucesso e de que seríamos premiados — conta Neusa, que levou o Kikito de Melhor Atriz Coadjuvante pela performance como Dona Malvina, enquanto Ailton foi considerado o Melhor Ator, no mesmo Festival de Gramado (RS): — Sempre falei que o filme seria o maior do ano. Ainda vamos ganhar muitos prêmios.

Baseado no livro “Mussum: uma história de humor e samba”, de Juliano Barreto, “Mussum, o filmis” reúne momentos menos conhecidos e explorados da vida do músico, ao lado dos Originais do Samba, mostra a relação de Antônio Carlos Bernardes Gomes com a família ao longo dos anos e sua carreira militar, além de reviver esquetes memoráveis de “Os Trapalhões”, em que fez sucesso absoluto como Mussum, apelido que ganhou de Grande Otelo (interpretado por Nando Cunha no longa).

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— A relação de Mussum com a aeronáutica era muito séria. Ele foi cabo, um soldado exemplar. Ao mesmo tempo, era irreverente, do samba, o que é quase paradoxal quando se fala de uma carreira militar. Essa dualidade é praticamente um resumo da vida de Mussum, daí a imagem do muro no filme — observa o roteirista, referindo-se a uma das primeiras cenas, em que o menino sobe num paredão para buscar a bola da brincadeira e se deixa hipnotizar pela roda de samba na casa do vizinho.

Mais do que a alegria em viver seu primeiro “pretagonista”, como ele mesmo afirma, Ailton fala sobre a satisfação de poder mostrar a verdade sobre o homenageado:

Ailton Graça (Mussum) com Gero Camilo (Didi), Felipe Rocha (Dedé) e Gustavo Nader (Zacarias): Os Trapalhões — Foto: Desirée do Valle/Divulgação

— Muita gente insiste em dizer que Mussum morreu de cirrose. Ele tinha um coração inchado, literalmente grande, e morreu após complicações de um transplante. Outra mentira descabida é que ele deixou a família na miséria. Todos os filhos ficaram em um caminho financeiro de prosperidade! É gostoso poder contar essa história corrigindo erros e dar a Mussum o grau de importância que merece.

Exibição especial na quadra da Mangueira

Vencedor como Melhor Filme e em outras cinco categorias no Festival de Gramado, “Mussum, o filmis” terá sessão especial na quadra da Mangueira na próxima quarta-feira, dia 18, com presença de elenco e equipe. A escola de samba foi uma grande paixão do ex-trapalhão, que desfilou com a comunidade verde e rosa por anos e atuou como diretor da ala das baianas. Agora, 29 anos após a morte do sambista-comediante, a quadra será transformada em cinema para uma exibição da cinebiografia. É a primeira vez que a Estação Primeira de Mangueira recebe uma sessão de cinema. O Telecine, coprodutor do filme, fará distribuição de pipoca. Em seguida, a bateria da escola convidará o público para um samba em homenagem ao artista. “Mussum, o filmis” tem produção assinada pela Camisa Listrada, com coprodução da Globo Filmes, Globoplay, Telecine, Panorama Filmes e RioFilme, e distribuição da Downtown Filmes.

Fonte EXTRA

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