Câncer de cólon: estudo confirma fator de risco para casos em jovens
Carne vermelha e processada são impulsionadores
Metabólitos associados à carne vermelha e processada são os principais impulsionadores do risco da doença nessa faixa etária.
O aumento do número de casos de câncer de cólon em pessoas jovens preocupa especialistas. Fatores do estilo de vida, como alimentação e sedentarismo, são apontados entre os responsáveis. Agora, um novo estudo da Cleveland Clinic identificou moléculas derivadas da dieta, chamadas metabólitos, especialmente aquelas associadas à carne vermelha e processada, como os principais impulsionadores do risco de câncer colorretal de início jovem.
O trabalho, publicado na revista científica npj Precision Oncology, analisou conjuntos de dados de metabólitos e microbiomas e destacou que uma das melhores maneiras de um adulto com menos de 60 anos, prevenir o câncer colorretal é discutir sua dieta com seu médico.
“No final das contas, é impraticável aplicar nossos modelos de atendimento para pessoas com mais de 60 anos a adultos mais jovens, simplesmente porque não podemos oferecer colonoscopias anuais a todos os membros do sistema”, explica o autor sênior e oncologista gastrointestinal Suneel Kamath. “O que é muito mais viável é fornecer a todos os participantes do sistema um teste simples para medir um biomarcador que determine o risco de câncer colorretal. Assim, poderemos fornecer aos indivíduos em maior risco um exame adequado”.
A análise baseou em dados de pacientes que receberam tratamento para câncer colorretal de início jovem ou médio na Cleveland Clinic. Um estudo anterior realizado pela mesma equipe identificou diferenças nos metabólitos (moléculas derivadas da dieta) do câncer colorretal de início jovem versus de início médio, enquanto outro identificou diferenças no microbioma intestinal entre adultos mais jovens e mais velhos com câncer colorretal.
Esses estudos forneceram muitas direções potenciais para o estudo do câncer de início jovem. No entanto, quando mais fatores estão envolvidos no risco de câncer, torna-se mais complicado compreender o que se passa e planejar futuras investigações. As interações entre esses fatores, como quando nossas bactérias intestinais consomem nossos metabólitos e produzem os seus próprios, tornam tudo ainda mais complexo.
Para resolver essas questões, o pesquisadores desenvolveram um algoritmo de inteligência artificial para combinar e analisar os conjuntos de dados dos estudos existentes e esclarecer quais fatores são mais relevantes para estudos futuros. Surpreendentemente, a análise revelou que as diferenças na dieta (identificadas através da análise de metabólitos) foram responsáveis por uma proporção significativa das diferenças observadas entre os pacientes de início jovem e os de início em idades mais avançadas.
“Os pesquisadores – inclusive nós mesmos – começaram a se concentrar no microbioma intestinal como o principal contribuinte para o risco de câncer de cólon. Mas nossos dados mostram claramente que o principal fator é a dieta”, diz Naseer Sangwan, diretor do Microbial Sequencing & Analytics Resource Core co-liderou o trabalho. “Já conhecemos os principais metabolitos associados ao risco de início precoce, por isso podemos agora avançar a nossa investigação na direção correta”.
A equipe ficou entusiasmada por ver a dieta desempenhar um papel tão importante no risco de câncer, porque é muito mais fácil identificar pacientes em risco contando os metabolitos no sangue do que sequenciar o DNA bacteriano nas fezes para detectar diferentes micróbios.
“Na verdade, pode ser muito complicado e difícil alterar o seu microbioma”, explica Sangwan. “Embora nem sempre seja fácil, é muito mais simples mudar sua dieta para prevenir o câncer de cólon”.
A dieta para prevenir o câncer de cólon
Pacientes mais jovens com câncer de cólon apresentavam níveis mais elevados de metabólitos associados à produção e metabolismo de um aminoácido chamado arginina e ao ciclo da ureia em comparação com seus pares mais velhos. Estas diferenças podem estar ligadas ao consumo a longo prazo de carne vermelha e carne processada.
A equipe está agora analisando conjuntos de dados nacionais para validar suas descobertas em pacientes de todo o país. O próximo passo é testar se certas dietas ou medicamentos disponíveis comercialmente que regulam a produção de arginina e o ciclo da ureia podem ajudar a prevenir ou até tratar o câncer colorretal de início jovem.
Embora sejam necessárias mais pesquisas para entender como os fatores dietéticos causam o câncer de cólon, os pesquisadores afirmam que as descobertas já mudaram a maneira como eles atendem os pacientes.
“Embora eu soubesse antes deste estudo que a dieta é um fator importante no risco de câncer de cólon, nem sempre discuti isso com meus pacientes durante a primeira consulta. Há tanta coisa acontecendo que já pode ser tão esmagador”, diz o autor sênior e oncologista gastrointestinal Suneel Kamath. “Agora, sempre me certifico de trazer isso à tona com meus pacientes e a quaisquer amigos ou familiares saudáveis com quem eles possam vir, para tentar equipá-los com as ferramentas de que precisam para fazer escolhas informadas sobre seu estilo de vida”.
Fonte Saúde / O Globo