Baiano abrigado em albergue da Prefeitura do Rio, passa em 1º lugar em concurso público

Vinícius Rogério trabalha como artista de rua.

Divulgação

O baiano Vinícius Rogério Nascimento, 42 anos, está no Rio desde abril deste ano abrigado no albergue da Prefeitura Martin Luther King, no Centro do Rio. Durante esse período no local, ele recebeu apoio para se dedicar aos estudos e passou em 1º lugar em um concurso público da cidade de Rio Claro, na região do Médio Paraíba do estado.

“Aqui no Rio de Janeiro, enquanto não sou chamado para o concurso, estou fazendo um trabalho artístico. Quando cheguei aqui no albergue, tentei o bolsa-família, mas depende do governo federal, ainda não foi liberado, aí tenho trabalhado na arte até ser chamado porque não tenho outra fonte de renda”, conta.

Artista de rua, ele já trabalhou no grupo de teatro Olodum, em Salvador, e esteve pela primeira vez no Rio em 2001 e se apresentou à época no Teatro Planetário, na Gávea, e também viajou para outras cidades do país com a peça.

“Em algum momento da minha vida, tive problema com a dependência química, precisei me internar lá em Salvador ainda e esse problema começou a afetar o meu trabalho artisticamente. A dependência química é uma doença, mas não necessariamente vai corromper os seus ideais”, explica.

A partir daí, ele passou a estudar para concursos e explica que o apoio de funcionários do albergue para que conseguisse focar nos estudos foi fundamental para sua aprovação.

Reprodução Google

“Fui bem acolhido aqui. A equipe me deu a possibilidade de ficar o dia inteiro estudando, não ter que ir para rua conseguir o alimento, consegui um notebook emprestado também. Contei minha história para a diretora Rosana, ela estendeu a mão e deu certo”, afirma.

Para o concurso de assistente administrativo, no qual ele foi aprovado após gabaritar a prova, Vinícius conta que as experiências em concursos anteriores contribuíram para seu bom desempenho. Além disso, ele tem uma boa memória e está acostumado a decorar poemas de poetas nordestinos, entre eles, Castro Alves, que costuma recitar para turistas em museus do Centro do Rio.

“Eu interpreto os poemas com essa base teatral e depois passo o chapéu”, diz, explicando de onde vem sua fonte de renda atual.

Quinto concurso aprovado

O baiano já foi aprovado e tomou posse de quatro concursos antes desse, o que totaliza cinco, contando com o atual em que aguarda a convocação. O último foi em um cargo administrativo na Universidade Federal da Bahia e ele também passou em primeiro lugar.

“O último cheguei a ficar de licença durante quase um ano na Bahia. No meu caso, estou aqui no albergue agora, eu sei que foi esse problema com drogas, senão estaria mais próximo da minha família”, justifica ele sobre não ter dado prosseguimento aos concursos anteriores.

Dessa vez, Vinícius está confiante de que tomará posse e exercerá a função em Rio Claro, mas seguirá estudando para outras provas e pretende ingressar na universidade para tentar futuramente vagas destinadas a Ensino Superior.

“Voltar ao serviço público que já entrei e saí algumas vezes era o meu objetivo. Tenho que utilizar as experiências anteriores, acredito que é um caminho particular que exige muita dedicação para que eu não desista”, diz.

“Como já precisei muito entrar e sair. Quando você perde o telhado, você ganha as estrelas. Como tive o problema com dependência química, precisei sair do serviço público. A necessidade me fez entrar novamente. Hoje sei que tenho capacidade, só eu gabaritei essa prova”, completa.

Dica para passar em concurso

O baiano dá uma dica para quem também é concurseiro e deseja ser aprovado: “Eu decoro textos desde pequeno. Às vezes você tem que decorar leis, decorar regras de gramática, de português, no fundo tem um pouco de tudo. Tem o bater na trave, o tentar. Eu já perdi também. Precisa aprender com isso. Todas as vezes que estudei foi por necessidade”.

Albergues da Prefeitura

Ao todo, a Prefeitura disponibiliza para pessoas em situação de rua ou migrantes que chegam à cidade e não têm onde ficar seis albergues, quatro Centrais de recepção e 31 URS (Unidade de atendimento institucional de passagem para oferta de acolhimento imediato e emergencial), com capacidade total para 2.265 pessoas acolhidas na rede própria. Além disso, a rede conveniada oferecerá mais 159 novas vagas, através de um chamamento público que está em andamento.

Os albergues funcionam das 19h às 7h e os usuários do serviço chegam a partir das 18h. As URS e Centrais funcionam 24 horas.

Esse acolhimento é feito por busca espontânea ou através do atendimento das equipes especializadas de abordagem social, Centros de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), Centro POP (Centro de Referência Especializado para população em situação de rua) e demais órgãos de proteção e garantia de direitos.

Fonte O Dia

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