Geração Z: novo estudo comprova que jovens estão bebendo menos

Mas por que eles reduziram o álcool?

Google

Especialistas citam busca por estilo de vida mais saudável, consciência sobre os riscos das bebidas e preocupação com a imagem como fatores que impulsionam a tendência.

Bares, festas, boates: o imaginário de diversão na juventude envolve quase sempre encontros regados a bebidas alcoólicas. Mas essa realidade começa a mudar, pelo menos para uma parcela significativa dos jovens da chamada geração Z, de 18 a 25 anos, que relata maior moderação no consumo de álcool e mais disposição para cortar as bebidas quando comparados aos mais velhos.

É o que mostra uma nova pesquisa realizada pela Mind & Hearts, empresa do grupo HSR Specialist Researchers. Após ouvir 677 brasileiros que têm o hábito de beber, entre dezembro de 2024 e janeiro de 2025, o levantamento constatou que 36% dos mais jovens consomem álcool apenas mensalmente ou menos – enquanto isso, esse percentual é de 32% nas gerações Y (26 a 40 anos) e X (41 a 60 anos).

Além disso, os consumidores da geração Z foram os que mais relataram considerar reduzir ou abandonar as bebidas alcoólicas: 88% contra 81% na geração Y e 85% na X. Os resultados estão alinhados com outras pesquisas recentes que revelam uma tendência cada vez mais consolidada de crescimento no número de jovens que repensam sua relação com o álcool.

— Sabemos que a bebida é algo que tradicionalmente se conecta muito com o jovem, mas isso vem mudando. Claro que não são todos, mas há esse movimento de repensar o consumo. A geração Z é a que bebe com menos frequência, é mais diversa na preferência das bebidas e a que mais pretende reduzir o consumo — resume Naira Maneo, sócia-diretora da Mind & Hearts.

A pesquisa foi feita apenas entre consumidores de álcool, mas o último relatório Covitel, de 2023, já mostrava que 36,1% dos jovens de 18 a 24 anos bebiam álcool “quase nunca”, o maior percentual de abstêmios entre todas as faixas etárias. De 55 a 64 anos, por exemplo, apenas 23,7% deixavam a bebida de lado.

E o movimento não é restrito ao Brasil. Nos Estados Unidos, um levantamento da Gallup mostrou que 38% daqueles entre 18 e 34 anos não ingeriam bebidas alcoólicas entre 2021 e 2023, um aumento de 10 pontos percentuais em relação aos resultados de uma década antes.

No Reino Unido, uma pesquisa da empresa Mintel, de 2024, apontou que os consumidores britânicos entre 20 e 24 anos tinham quase metade da probabilidade de priorizar gastos com bebidas alcoólicas do que o observado entre os de 75 anos ou mais.

Maneo cita que esse movimento é tão significativo que tem sido observado com olhos atentos pelo mercado:

— As tendências começam em grupos pequenos que vão crescendo e se consolidando. E o mercado já está respondendo criando alternativas para esse novo público, vemos um crescimento expressivo de bebidas zero álcool, grupos de corrida servindo como apps de relacionamento, por exemplo.

Sobre as bebidas zero álcool, um levantamento da consultoria Euromonitor aponta que o consumo no Brasil saltou de 133 milhões de litros em 2018 para 752 milhões no ano passado. A empresa estima ainda que esse volume possa chegar a 1,18 bilhão em dois anos.

Por que jovens estão bebendo menos?

Google

O principal motivo para essa mudança é que a geração Z dá preferência a hábitos saudáveis que muitas vezes tornam-se incompatíveis com o consumo de álcool, avalia Arthur Guerra, psiquiatra coordenador do Núcleo de Álcool e Drogas do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo:

— A geração Z tem um estilo de vida diferente, eles buscam mais qualidade. Isso envolve alimentação, exercícios físicos, maior cuidado com o sono, com saúde mental, lazer e, nesse sentido, repensar o consumo de álcool. A visão é que ele até pode existir, mas menor, ou mesmo não precisa existir.

É o caso do redator de conteúdo Renan Queiroz, de 23 anos. O jovem começou a beber quando entrou na faculdade, mas sempre encarou o álcool como algo “dispensável”. Ao começar um acompanhamento nutricional, foi orientado que as bebidas poderiam atrapalhar os resultados, já que são nocivas ao corpo e altamente calóricas. Foi o suficiente para Renan decidir abandonar o hábito.

— Uma das minhas metas para 2025 é cuidar mais da saúde, então isso se tornou minha prioridade. Como não era algo tão presente na minha vida, foi fácil cortar. Vejo que as pessoas da minha idade estão repensando essa relação com o álcool. Especialmente nas redes sociais, tenho visto muitas pessoas buscando um estilo de vida mais saudável, muito interesse por esportes, musculação, então muito atrelado à questão de priorizar a saúde — conta.

Mariana Thibes, doutora em sociologia e coordenadora do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), concorda que os jovens estão repensando a visão do álcool como uma necessidade para a diversão, algo comum nas gerações mais velhas. E acredita que outro fator envolvido é que as redes sociais causam uma maior preocupação com a reputação, o que pode levá-los a evitar a embriaguez:

— As novas gerações estão encontrando formas alternativas de socialização que não giram em torno do álcool, como esportes, eventos ao ar livre e até baladas sem álcool. E há essa “desglamourização” da experiência da embriaguez, tão valorizada pelas gerações anteriores. Para os jovens de hoje, ficar bêbado está associado a perder o controle das ações, o que é visto de forma negativa.

Matheus Karounis, mestre em Psicologia Clínica e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, vê também a influência de uma maior conscientização sobre os riscos das bebidas entre os mais jovens:

— As novas gerações têm mais acesso à informação sobre os riscos do consumo excessivo e buscam alternativas para socialização e manejo do estresse que não dependam do álcool. Há também uma crescente preocupação com produtividade e desenvolvimento pessoal que pode conflitar com os efeitos negativos do álcool.

De fato, não são poucos os impactos das bebidas no corpo humano. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), não existe dose considerada segura, e o álcool está ligado a mais de 200 problemas de saúde, incluindo câncer e doenças hepáticas.

Os últimos dados do órgão mostram que cerca de 400 milhões de pessoas vivem com transtornos ligados à bebida no mundo, e 2,6 milhões morrem a cada ano. No Brasil, um estudo da Fiocruz de 2024 concluiu que morrem cerca de 105 mil pessoas ao ano, 12 a cada hora, e que o gasto direto e indireto com as consequências do álcool chega a uma média de R$ 18,8 bilhões anuais.

Ainda assim, a faixa dos jovens ainda é proporcionalmente a que consome mais álcool com o objetivo de embriaguez. Na Covitel 2023, por exemplo, 21% daqueles de 25 a 34 anos relataram que, quando bebem, o volume envolve 7 doses ou mais – o maior percentual entre as faixas etárias.

Cada dose equivale a uma lata de cerveja, uma taça de vinho ou um shot de destilado. Na faixa etária a partir de 65 anos, que bebe com mais frequência, a vasta maioria (62,2%) consome apenas duas doses ou menos por ocasião.

Além disso, Guerra, do Sírio-Libanês, lembra que a tendência de menos jovens bebendo pode estar acontecendo paralelamente a um aumento do uso da maconha:

— Como médico, me preocupa porque nenhuma droga é inofensiva — diz o psiquiatra.

Fonte Saúde – O Globo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *