Hugo Motta é eleito para presidente da Câmara Federal
‘Não existe ditadura com parlamento forte’
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Novo presidente da Câmara citou Ulysses Guimarães, impeachment de Dilma, presidencialismo de coalização e até filme ‘Ainda estou aqui’, ambientado na ditadura militar.
O deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) assumiu na tarde deste sábado (1º) a presidência da Câmara – posto que deve ocupar pelos próximos dois anos.
O resultado foi anunciado pelo agora ex-presidente Arthur Lira (PP-AL) às 18h51. Logo em seguida, Motta assumiu o comando do plenário para seu primeiro discurso.
O placar eletrônico registrou os votos de 499 dos 513 deputados. O placar ficou assim:
- Hugo Motta (Republicanos-PB): 444 votos (eleito)
- Marcel Van Hattem (Novo-RS): 31 votos
- Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ): 22 votos
- Em branco: 2 votos
No primeiro discurso como presidente, Hugo Motta equiparou a democracia à estabilidade econômica e disse que é preciso “deixar o Brasil passar”.
“Faço um apelo, vamos deixar o Brasil passar. Não se pode mais discutir o óbvio. nada pior para os mais pobres do que a inflação e a instabilidade na economia […] Defenderemos a democracia porque defenderemos também as melhores práticas e políticas econômicas. Defender estabilidade econômica é defender a estabilidade social.”, afirmou.
“Viva a democracia”, bradou em outro momento, segurando um exemplar da Constituição e replicando o gesto de Ulysses Guimarães ao promulgar a Carta, em 1988. Motta fez diversas referências a Ulysses durante a fala.
“Não posso deixar de lembrar e emocionar que essa é a cadeira do pai de nossa Constituição, Ulisses Guimarães. Assumo a presidência da Câmara dos Deputados com três compromissos, três únicas prioridades: servir ao Brasil, servir ao Brasil, servir ao Brasil”, disse, logo no começo da fala.
Legislativo forte e emendas impositivas
Motta usou ainda as palavras de Ulysses Guimarães ao repetir a frase célebre: “Tenho ódio e nojo à ditadura”. E emendou com uma defesa da força do parlamento – ecoando o discurso do recém-eleito presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), horas antes.
“Não existe ditadura com parlamento forte. O primeiro sinal de todas as ditaduras é minar e solapar todos os parlamentos. Por isso, temos de lutar pela democracia. E não há democracia sem imprensa livre e independente. Quero aqui agradecer e parabenizar a todos os jornalistas presentes nesse sábado”, seguiu.
Na mesma toada de defesa do Legislativo, Motta afirmou que o poder nunca ultrapassou suas prerrogativas. E fez críticas duras ao presidencialismo de coalizão – nome dado ao sistema político brasileiro, em que o presidente precisa constantemente de alianças no Congresso para aprovar seus projetos.
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Motta classificou esse sistema como “um mecanismo político, na verdade um eufemismo de nome pomposo, mas de funcionamento que se provaria perverso. Nada mais, nada menos que a locação, o aluguel, o empréstimo do poder semipresencial do Legislativo ao Executivo”.
Hugo Motta também usou seu primeiro discurso para defender que o governo seja obrigado a pagar as emendas parlamentares.
“Foi nessa época [do impeachment de Dilma Rousseff] que aqui, nesta Casa, em 2016, por meio da adoção das emendas impositivas, que o parlamento finalmente se encontrou com as origens do projeto constitucional. A crise exigia uma nova postura, o fim das relações incestuosas entre Executivo e Legislativo”, disse.
Defendeu, também, que os poderes exercitem a “contenção” para garantir a harmonia entre Executivo, Legislativo e Judiciário.
“Poderes têm a obrigação de não apenas serem independentes. Mas de zelarem pela harmonia. Porque sem harmonia, que muitas vezes se traduz na autocontenção, na compreensão de que nenhum poder pode tudo e que todos, somente todos, podem representar na totalidade a democracia, sem harmonia a democracia pode ser irremediavelmente fraturada. Serei um guardião da independência e uma sentinela permanente pela harmonia”, afirmou.
‘Ainda estamos aqui’
Por fim, e com direito a uma breve adaptação, Hugo Motta encerrou o discurso com uma frase emblemática.
“Em harmonia com os demais poderes, encerro com uma mensagem de otimismo: ainda estamos aqui”, declarou.
A frase faz referência, ainda que indireta, ao filme “Ainda estou aqui”, produção original Globoplay ambientada na ditadura militar e que concorre a três Oscars.
O filme conta a história de Eunice Paiva, que se torna viúva após o ex-deputado Rubens Paiva (cassado pela ditadura em 1964) ser preso para interrogatório, torturado e assassinado pelo Estado.