Matheus Nachtergaele e Selton Mello falam de ‘O auto da Compadecida 2’

‘Não é uma continuação, é uma celebração’

 Foto: Divulgação / Laura Campanella

Nos 25 anos do primeiro encontro na TV, atores retornam como João Grilo e Chicó em filme que estreia no Natal com previsão de ocupar mais de mil salas do país.

“Um presente de Natal.” É assim que Selton Mello e Matheus Nachtergaele descrevem “O auto da Compadecida 2”, continuação do sucesso do ano 2000 que tem lançamento no próximo dia 25, com estratégia que remete a blockbuster internacional. A expectativa é que o novo filme entre em cartaz em mais de mil salas de cinema pelo Brasil. No sábado passado, o longa teve sua primeira exibição para o público diante de três mil pessoas na CCXP, em São Paulo, arrancando risos e aplausos da plateia. A estreia “catártica”, segundo Selton, mostra como o filme se tornou um fenômeno cultural.

— É um pouquinho mais que um filme — endossa Matheus. — Vem de uma peça de teatro, de uma série e de uma obra que ficou eternizada como o filme de cabeceira do brasileiro. Então, “O auto da Compadecida 2” não é bem uma continuação, é uma celebração. Para o público, uma celebração daquilo que gostam muito. Para nós, uma celebração de nossos melhores palhaços.

Na nova trama, após passar 20 anos desaparecido, João Grilo (Matheus) retorna à pequena Taperoá para reencontrar o velho amigo Chicó (Selton). No local, ele acaba sendo tratado como celebridade por causa dos causos de que havia ressuscitado após um julgamento que teve o diabo como acusador, Nossa Senhora como defensora e o próprio Jesus Cristo como juiz. A popularidade acaba despertando a atenção de dois políticos poderosos da cidade.

Selton Mello e Matheus Nachtergaele retornam como Chicó e João Grilo em “O Auto da Compadecida 2” — Foto: Divulgação/Laura Campanella

Além dos dois protagonistas, a produção conta com os retornos de Virginia Cavendish como Rosinha e Enrique Diaz como Joaquim Brejeiro. Humberto Martins, Luis Miranda, Fabiula Nascimento e Eduardo Sterblitch são novidades do elenco, enquanto Taís Araujo surge com a responsabilidade de assumir o papel de Nossa Senhora, personagem imortalizada por Fernanda Montenegro na obra original, e que não pôde retornar por conflitos na agenda.

— Conversei com Dona Fernanda, que foi muito generosa e atenciosa. Não foi bem uma conversa exatamente sobre o filme e sim sobre Nossa Senhora, sobre a primeira vez que apareceu, sobre o seu significado. Fernanda é sempre maravilhosa, por isso é a maior de todas — conta Taís.

Só sei que foi assim

Após se destacar em programas de humor da TV Globo, como “Armação ilimitada” e “TV Pirata”, o diretor e roteirista Guel Arraes comandou várias adaptações de clássicos brasileiros para a emissora ao longo dos anos 1990. Em formato de especiais de 40 minutos, ajudou a desenvolver versões de “O mambembe” (1993), de Arthur Azevedo, “Lisbela e o prisioneiro” (1993), de Osman Lins, “O coronel e o lobisomem” (1994), de José Cândido de Carvalho, e “A farsa da boa preguiça” (1995), de Ariano Suassuna, entre muitas outras. À época, já pensava em adaptar outra obra de Suassuna: “O auto da Compadecida”. Mas não achava que o formato conseguiria condensar toda a trama. O sonho se tornou realidade em 1999. Ao lado dos parceiros recorrentes João Falcão e Adriana Falcão, Guel adaptou o clássico do autor pernambucano, amigo de seu pai, Miguel Arraes (ex-governador de Pernambuco), para uma minissérie de quatro episódios.

Da TV para o cinema

Com os jovens Matheus e Selton liderando um elenco estelar com nomes como Denise Fraga, Diogo Vilela, Marco Nanini, Lima Duarte, Fernanda Montenegro, Paulo Goulart, Rogério Cardoso e Luís Melo, a minissérie foi um fenômeno de audiência na televisão. A repercussão foi tanta que um ano depois a obra chegou aos cinemas como filme. Passados 25 anos, Guel, agora na companhia de Flávia Lacerda na direção, retorna ao universo de Suassuna e reencontra seus protagonistas.

— Achei que “O auto da Compadecida” seria apenas mais um especial, mas se tornou um fenômeno muito acima do que imaginei. O filme levou 2,2 milhões de pessoas aos cinemas, mesmo já tendo passado na TV — lembra o diretor pernambucano, de 71 anos. — Acho que tenho outros trabalhos que considero melhores ou tão bons quanto, mas “O auto” conversa com o público em outra instância.

Guel Arraes durante as gravações de “O Auto da Compadecida 2” — Foto: Divulgação/Laura Campanella

O cineasta, que escreveu o roteiro da sequência ao lado de João Falcão, com a colaboração de Adriana Falcão e Jorge Furtado, conta que por duas décadas todos os envolvidos no projeto original recebiam pedidos para uma nova empreitada. Por muito tempo, negaram a possibilidade. Um encontro dos diretores, roteiristas e atores, no entanto, em que todos relembraram a importância da obra em suas trajetórias, fez com que decidissem por um novo filme.

— “O auto da Compadecida” significou tudo em minha carreira. A sensação que eu tenho é que não se passaram 25 anos. Nunca deixei de ser chamado de Chicó. Eu ando na rua, entro num táxi, me perguntam: “Cadê o seu amigo?” E o amigo é o Matheus — conta Selton.

A experiência é compartilhada pelo colega de cena.

— Todo sorriso que eu recebo na rua, eu sinto que é para o João Grilo — diz Matheus, reforçando que o filme “é para todas as idades”.

A satisfação da equipe de “O auto da Compadecida 2” não é exclusiva de quem estava envolvido na produção original. Na pele do Coronel Ernani, Humberto Martins comemora a chance de criar um vilão bem distante de seu tradicional papel na TV. Para o filme, o ator passou um ano sem fazer a barba ou cortar o cabelo. Em cena, ele vive o pai de Claribela, vivida por Fabiula Nascimento. Taís Araujo é outra fã do projeto.

— Nem consigo falar que “O auto” é o filme do Matheus, do Selton, do Guel. Ele virou o filme de todos nós brasileiros. Temos um amor por este filme — diz a atriz.

Taís Araujo assume nova representação de Nossa Senhora em “O auto da Compadecida 2” — Foto: Divulgação / Laura Campanella

Taperoá digital

Enquanto a obra original foi rodada em Cabaceiras, no sertão da Paraíba, com uma linguagem mais televisiva, a produção de “O auto da Compadecida 2” optou por uma Taperoá digital. Num set tecnológico, com painéis de LED que reproduziam cenários em tempo real, as filmagens foram realizadas no Rio, em estúdio.

— A gente tinha muito claramente um desejo estético de embalar essa história de forma coerente com suas origens: o teatro. Fazer um “Auto” operístico/farsesco/fabular e uma Taperoá mítica nos norteava a inventar algo fora do realismo das locações — diz Flávia, que era segunda assistente de direção no primeiro longa.

A produção contou com uma equipe de mais de 600 profissionais, entre técnicos, artistas e fornecedores.

Foram mais de dois anos de desenvolvimento do projeto, sendo 13 meses para concepção de cenários e pré-produção, dois meses de filmagens e mais um ano de pós-produção, complementação de efeitos especiais, montagem e finalização. O orçamento total foi de R$ 30 milhões, financiados em maior parte com recursos privados, diz a produtora Juliana Capelini, da Conspiração Filmes, empresa responsável por produzir a obra ao lado da H2O Produções.

Fonte O Globo

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