Boom das casas de apostas dobra os patrocínios no futebol e valoriza camisas de times

Principais times do país estão valorizados

 Foto: Artes – O Globo

Entrada das bets após a pandemia e regulamentação prestes a sair movimentam o mercado do futebol brasileiro. Corinthians, Flamengo e Fluminense tem os três maiores patrocínios do país .

O termo Bet entrou de vez no futebol nacional. Basta uma rápida olhada para as camisas dos clubes de elite do Brasil que estará lá estampado no centro do uniforme, nas mangas, no calção ou nas costas. Com a permissão para atuar no país desde 2018 e a regulamentação completa quase saindo do forno, as casas de apostas injetaram milhões de reais no esporte. E há mais por vir.

Os clubes agradecem. Graças à disputa pelo mercado ainda não totalmente regulamentado, todos viram suas camisas serem amplamente valorizadas. A estimativa de investimentos em patrocínios este ano, só na Série A do Brasileirão, gira em torno de R$550 milhões — apenas Vasco e Cuiabá não contam com uma bet para chamar de sua. Ainda. O cruz-maltino, sem um patrocinador máster até o momento, tem negociações em andamento.

A grandeza dos números fica mais explícita quando se compara ao período pré-pandemia. Naquela ocasião, o grande patrocinador do futebol brasileiro era uma estatal. Por sete anos, a Caixa Econômica Federal aportou R$ 663,7 milhões nos clubes das Séries A e B (o total de times patrocinados chegou a 25). Os investimentos foram suspensos a partir de 2019, no governo Jair Bolsonaro.

Valores pagos pelas empresas de apostas esportivas aos clubes da Série A — Foto: Editoria de Artes

Nas Séries A e B

Atualmente, 13 casas de apostas patrocinam 18 dos 20 times da primeira divisão, sendo 14 como máster. Na série B, todos têm uma bet no uniforme, sendo 75% como principal. Ao todo, há 20 empresas do ramo colocando dinheiro nos clubes, fora os milhões pagos para ter os naming rights das principais competições do país.

Considerado o clube com a camisa mais valiosa do Brasil — algo por volta de R$ 225 milhões contando todos os patrocínios e contrato de material esportivo — o Flamengo representa bem a valorização do mercado.

Em 2016, o rubro-negro recebia R$25 milhões da Caixa; hoje ganha R$85 milhões da Pixbet por ano. Quase 3,5 vezes a mais, contando apenas os valores nominais sem correção monetária. Do ano passado para cá, mais que dobrou ao trocar o banco BRB (R$38,5 milhões) pela bet.

— Em 2019, com a saída da Caixa, houve muita oferta e pouca demanda, e isso levou os valores do máster para baixo em todos os clubes do futebol brasileiro (naquele ano, o rubro-negro fechou com o BS2 por apenas R$11,8 milhões) — analisa o vice-presidente de marketing do Flamengo, Gustavo Oliveira, que credita o alto valor da camisa do clube a três pilares: o tamanho da torcida, a presença nas redes sociais com mais de 60 milhões de seguidores e a gestão responsável.

Corinthians no topo

Contudo, hoje, o maior contrato de patrocínio de uma operadora de apostas é o da Vai de Bet com o Corinthians: R$320 milhões por três anos, ou cerca de R$ 120 milhões por temporada. O Flamengo quer entrar na briga e já negocia com a Pixbet o aumento nos valores do negócio, com a divulgação da marca em outros esportes e ativos do clube.

Os milhões do Palmeiras ainda estão concentrados nas empresas da presidente do clube, Leila Pereira. Mas o feminino abriu as portas para as bets, com um contrato máster exclusivo, com algumas parcerias no masculino. No mercado, há fortes rumores de que, em 2025, o alviverde irá a campo com uniformes com a logomarca de alguma operadora de apostas no peito.

O boom do mercado também foi favorável a dois clubes tricolores: Fluminense e São Paulo. Ambos assinaram contratos com a Superbet por R$ 52 milhões cada um. O atual campeão da Libertadores rompeu com a Betano, que pagava R$20 milhões anuais.

A presença do tricolor no super Mundial de Clubes de 2025 foi um dos motivos para a nova patrocinadora mais que dobrar o valor da concorrente. Pela regra da Fifa, apenas o máster pode estampar sua marca nas camisas durante a competição.

Alexandre Fonseca, CEO da Superbet, reconhece a abertura do país às apostas online como motivador da injeção de milhões por bets consolidadas no mercado ou recém-criadas.

—O Brasil é um dos maiores mercados mundiais em volume de apostas. Ao longo dos últimos anos, o cenário vem se transformando e as apostas trouxeram uma nova forma de torcer. Para se ter uma ideia da grandeza do futebol no Brasil, considerando-se apenas as Séries A e B, Copa do Brasil e Libertadores temos algo em torno de 1000 jogos por ano, o que torna o Brasil um mercado único —diz.

Mas a valorização do futebol brasileiro em si, segundo ele, é um atrativo a s empresas de qualquer setor:

— A valorização segue a tendência do futebol brasileiro. Vale observar que as últimas finais da Libertadores foram conquistadas por times do Brasil, com três decisões totalmente brasileiras. Os estádios estão sempre cheios. Em média, são de 35 mil a 50 mil torcedores por jogo. Os campeonatos no país estão consolidados e consistentes, os clubes cada vez mais profissionais.

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‘Jogo mais agressivo’

Antes da regulamentação completa, o que deve acontecer no início do segundo semestre, a tendência tem sido a entrada de novas empresas a fim de abocanhar um pedaço do mercado. É hora de marcar território, e isso torna o jogo financeiro bem mais agressivo.

— As casas de aposta colocaram nos clubes uma concorrência que acaba sendo ruim para as próprias casas de aposta. Elas também sabem que virou um jogo de rouba monte, ou seja, que se não fizer um cheque grande, amanhã pode vir outra casa e tirar dele. O beneficiado no momento é quem está vendendo o espaço. Antigamente era difícil dobrar o valor, agora é uma coisa sem precedente — afirma Ivan Martinho, professor de marketing esportivo da ESPM.

Segundo o calendário da Secretaria de Prêmios e Apostas, a portaria sobre a outorga das casas de apostas está prevista para o final deste mês. Quando tudo estiver estabelecido, a expectativa é uma autorregulação do mercado.

— Esses valores tendem a baixar com a regulamentação e a consequente diminuição da quantidade de casas dispostas a investir dada uma existência de pré-requisitos mais robustos para obtenção de licenças nacionais. A maturidade do mercado deverá fazer potenciais investidores entenderem mais acerca do real valor das propriedades. Tudo isso culminará em uma acomodação de preços passada essa euforia inicial — admite Darwin Filho, CEO do Esportes da Sorte.

Algo que teve no mundo. A regulamentação também ajudará a estabelecer os parâmetros do jogo limpo nas apostas. Num primeiro momento, o Brasil deve ter uma das legislações mais rigorosas, como já foi a da Inglaterra.

— A CBF já divulgou a norma em que só os operadores autorizados pelo governo poderão ser patrocinadores de clubes do Brasileirão. Isso já começa a modelar o mercado e a definir quem vai ficar. Vai formar um clube, com certeza — diz o advogado Pedro Simões, da Veirano Advogados.

Fonte Agência Brasil

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