O que acontece com os órgãos, como o coração antigo de Faustão, após sua retirada ?
Destino de órgãos retirados é o mesmo dado a descartes hospitalares.
Com a realização do transplante de coração do apresentador Fausto Silva, o Faustão, de 73 anos, o Faustão, muitas dúvidas surgiram acerca do procedimento e funcionamento da fila para o recebimento de um órgão. No entanto, o que ocorre com os órgãos não saudáveis, retirados de quem vai receber o transplante?
De acordo com a coordenadora de transplante hepático da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Ilka Boin, após a retirada do órgão afetado, ele é enviado para que seja feito um exame de análise de anatomia patológica.
“Todos os órgãos retirados são, obrigatoriamente e por lei, enviados para exame de anatomopatologia para que seja confirmada a doença de base. Isso ocorre de forma imediata”, explica a especialista.
O professor-doutor do departamento de Patologia da FM-USP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e diretor do Svoc (Serviço de Verificação de Óbito), Luiz Fernando Ferraz, explica que o destino do órgão retirado é o mesmo dado a um paciente que, por exemplo, tira um pedaço de órgão afetado por um câncer.
“Quando encaminhado para a análise anatômica e patológica, o patologista analisa o órgão externamente, verificando possíveis alterações, se peso e tamanho estão adequados ou foram afetados por alguma doença e, depois, [o órgão] é aberto para ver possíveis alterações e lesões internas. A partir disso, são coletados pequenos fragmentos, de cerca de 1 cm cada, que serão examinados no microscópio.”
Os órgãos são armazenados em recipientes específicos, com formol, assim como as amostras examinadas, durante o período necessário para a conclusão do laudo do que os teria afetado. Ferraz informa que esse processo costuma levar cerca de um mês, mas pode variar, conforme a instituição e a necessidade.
Depois desse período, Ferraz esclarece que as amostras são guardadas em arquivo. Já o restante do órgão precisa ser descartado conforme as regras de biossegurança estabelecidas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Os órgãos analisados são individualizados com códigos de barras, identificando o paciente, e encaminhados para a incineração. O destino é o mesmo de demais resíduos hospitalares ou membros amputados.
“O processo é parecido com o de uma cremação. Isso acontece também com apêndices retirados por apendicite, ou tireoides retiradas por uma suspeita de câncer, por exemplo”, esclarece Ferraz.
Ele afirma que a incineração ocorre em temperaturas extremamente elevadas e que não costuma gerar resíduos. Porém, caso ainda haja fuligem, o material é encaminhado para aterros específicos para descarte de lixos hospitalares não infectantes.
Em casos raros, em que não há a estrutura adequada para a incineração dos órgãos, o descarte é feito por enterro. Os materiais, assim como membros amputados, são armazenados em caixões do tamanho necessário, ou recipientes do mesmo material, e seguem as mesmas regras de sepultamento, podendo ser colocados em gavetas de cemitério, jazigos ou covas, conforme as determinações das autoridades locais.
Ferraz lembra que o material é sempre do paciente — sendo válido, principalmente, para as amostras, que não apresentam risco infeccioso. Os órgãos, se solicitados, podem ser entregues à família, com as condições e garantias de armazenamento determinados pela Anvisa.
“Isso acontece muito quando os familiares querem uma segunda opinião de análise de outros laboratórios ou hospitais, que terão os termos de envio, recebimento e armazenamento corretos. São casos excepcionais em que isso ocorre e com as lâminas de microscopia, não com os órgãos inteiros — que não poderão ser levados para casa.”
As famílias podem, também, autorizar o uso desses órgãos retirados para pesquisas, se atenderem às características que serão estudadas. Para isso, é preciso uma autorização específica, e o projeto de pesquisa deve ter sido aprovado por um comitê de ética, assim como os familiares precisarão assinar um termo de consentimento livre, em que sejam esclarecidos quais a finalidade e o projeto em que os órgãos serão utilizados.
Já para estudos anatômicos em faculdades, os órgãos não são tão funcionais. Isso porque, com as análises para o laudo, em que são realizados cortes e retirados fragmentos, são perdidas características que seriam estudadas pelos alunos. Dessa maneira, os órgãos doados para ensino provêm de autópsias, em que são feitos procedimentos mais simples, mantendo os seus aspectos.
Fonte R7