‘Trocar uma evangélica por um bolsonarista é um erro’, diz Waguinho em entrevista

Prefeito de Belford Roxo falou com o Extra.

Foto: Ricardo Stuckert/PR

Waguinho, prefeito de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, foi o principal articulador da campanha de Lula na Baixada Fluminense no ano passado, diz em entrevista ao Jornal EXTRA que demissão da sua mulher, Daniela de Waguinho, ministra do Turismo do governo Lula, seria ‘desonestidade’ e afirmou que o Bispo Rodrigues, suposto substituto da ministra, não dará as rédeas no Republicanos no Rio. O prefeito está em rota de colisão com o Palácio do Planalto seis meses após emplacar a mulher no Ministério do Turismo. A ministra e titular da pasta perdeu o apoio da bancada do União Brasil e, em um momento de crise política, tornou-se a mais cotada para primeiro alvo da reforma ministerial — movimentação que pode até levar o casal para a oposição. “Temos que saber quais são as contrapartidas”, alerta Waguinho.

Veja a entrevista completa abaixo.

O senhor chegou a falar com o presidente Lula sobre a troca no Ministério do Turismo?

Ele me ligou na quarta-feira e marcou uma conversa para segunda. Pediu para termos calma e disse que jamais deixaria Waguinho e Daniela abandonados, porque tem um carinho imenso pela gente.

O senhor já falou com o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) sobre a possível troca. Como foi?

Falei que esse não é o caminho para resolver os votos na Câmara. Daniela tem feito um trabalho exemplar, mesmo sem orçamento e cargos. Se é para o ministério ser fortalecido e poder atender aos deputados, o governo tem que botar orçamento. Os deputados vão ao ministério pedir recursos e obras. E isso não tem como fazer hoje, porque não há verbas. O que está acontecendo é uma perseguição do (Luciano) Bivar (presidente do União Brasil) e do (Antônio) Rueda (vice-presidente). Estão dando um cheque sem fundo para o governo, porque não vão entregar voto nenhum.

Caso a ministra Daniela Carneiro saia, o senhor e seu grupo vão para a oposição?

Não vou tomar nenhuma decisão antes de ouvir o presidente Lula. Tenho uma relação de amizade com ele e um carinho imenso. Provavelmente, o presidente não está sabendo da coisa certa, e eu vou explicar. Se o governo agir de forma inteligente, vai manter. Se vamos ser oposição ou não, não sabemos. Temos que saber quais são as contrapartidas. Seria um erro muito grande tirar a mulher mais votada do Rio, evangélica, para botar um deputado bolsonarista, o Celso Sabino, que foi contra o Lula. Fomos os únicos a fazer campanha de verdade no Rio. Seria uma desonestidade muito grande. Além de tirar o Rio do Ministério do Turismo para entregar a um estado (Pará) que já tem um ministério, o das Cidades (com Jader Filho). Desmoraliza o Rio, o berço do bolsonarismo.

Reprodução Rede Social

O senhor já falou que os “ataques” pela saída da Daniela vêm do Planalto. De quem?

Quem cuida da articulação política do governo está fazendo o raciocínio errado. Por que não partiu para dentro do Ministério da Integração? Para não se meter com o Alcolumbre (senador, indicou o ministro Waldez Góes)? E o Ministério das Comunicações? Lá não vai se meter nem com Alcolumbre nem com Elmar (Nascimento; ambos são próximos ao ministro Juscelino Filho). E os outros ministérios do MDB e do PSD, que também estão sem entregar votos? E aí vem para cima da ministra Daniela, que está ali por mérito e por cota do presidente Lula. Eu falei para o Padilha que esse raciocínio está totalmente contrário à solução dos problemas que precisam ser resolvidos. Eles sabem muito bem como vai ter que resolver a questão.

Como deve ser feito?

Fortalecer os ministérios, dar condições de atender aos deputados. Os parlamentares querem também os cargos de segundo e terceiro escalões nos estados, o que também não tem acontecido.

Os deputados alinhados ao grupo do senhor não entregam votos para o Planalto. Isso não dá razão ao governo para a troca? Todos votaram a favor do marco temporal das terras indígenas, por exemplo, e não houve um só voto a favor do decreto do saneamento.

Não são oposição. Arcabouço fiscal, vê se não votaram? Medida Provisória dos Ministérios, Minha Casa, Minha Vida, Bolsa Família… Todas as coisas pontuais que são para a governabilidade foram votadas. O que não foi votado, foram só eles ou todo mundo junto? Pega o MDB, com três ministérios, que votou contra. O PSD, com três ministérios, votou contra. A culpa só está aqui?

Por que o Republicanos não integra a base do governo?

O que o Republicanos espera é a sinalização do governo. Quem deu a vitória da MP dos Ministérios? Foi o Republicanos, que entrega muito mais votos que o próprio União Brasil ou qualquer outro. O Planalto precisa sinalizar de forma que o partido se sinta contemplado, mas o partido tem feito a sua parte, tem ajudado o governo.

O senhor assumiu o comando do Republicanos no Rio em uma estratégia nacional do partido de tirar bispos da Igreja Universal de presidências de diretórios, e isso tem gerado insatisfação. Como lidar com a reação?

Eu sou da política, e sou conhecido pelos evangélicos, porque somos evangélicos desde 1976. Nunca misturei isso, sempre toquei a política como político. O Estado é laico, a gente faz política para todos. Não tenho problema com a Universal nem com qualquer outra denominação. Os únicos que falam com todos os líderes evangélicos do Rio de Janeiro somos eu e a ministra Daniela.

Alguns bispos têm pedido para o Bispo Rodrigues voltar para o dia a dia do partido. O que acha dessa hipótese?

Se ele resolver a questão dos candidatos da igreja (Universal) que vão estar no partido, é um direito deles. Agora, jamais permitiremos interferência do Bispo Rodrigues na questão política. Não vai ter impedimento de nenhuma pessoa que é da política de estar dentro do partido. Na igreja, é com eles, que vão dizer quem vão ser os candidatos de lá. Mas interferência no partido é zero. Tenho autonomia para tocar o partido da forma que o presidente nacional, Marcos Pereira, me pediu, para que o partido não seja mais visto no Estado do Rio de Janeiro como um partido da igreja. Tem que ser visto como um partido da política. Dos 41 deputados federais que o partido tem hoje, só dez são da igreja.

Fonte: EXTRA

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